sábado, 5 de outubro de 2019

Caminhos cruzados, de Erico Verissimo

“D. Dodó declara-se a mais insignificante das criaturas que Deus botou no mundo, indigna de desatar as sandálias dos mais humildes... Mas não, senhora! A quem devemos os nossos asilos, as nossas festas de caridade mais bonitas ?... Não senhora!1

A capacidade criativa dos autores é um fenômeno de grande prodigiosidade e reflete a visão de um cenário que lhe traz apego e expressão de um estilo literário. Foi assim que Erico Verissimo escreveu no ano de 1935 sua quarta obra voltada para um público maduro: Caminhos cruzados.

As cenas que permeiam a obra responsável em projetar nacionalmente o escritor gaúcho pode em certa medida ser uma comparação com a vida modesta que marcava o cotidiano do autor naquele período. Oras, Verissimo não pode ser visto como o desempregado João Benévolo que vagueia pela capital gaúcha em busca de trabalho, mas a vida modesta do autor é uma das marcas deste período.

Como foi o processo de criação dos personagens deste livro por Erico, seria uma recordação dos personagens que ele cruzava todos os dias ao seguir à pé para o trabalho na Editora Globo ?

Caminhos cruzados expõe a vida de luxúria de personagens como o empresário Leitão Leria, o sortudo Zé Maria e do comerciante Honorato Madeira, e noutro extremo a vida difícil de D. Eudóxia, João Benévolo e do moribundo Maximiliano. No livro também está presente as aventuras amorosas do jovem Fernando apaixonado por uma prostituta, do coronel Zé Maria e seu filho que caminham na mesma direção dos “prazeres da vida” e expõe as nuances das relações sociais de uma época marcada por transformações na sociedade da capital gaúcha.


Como o livro apresenta diversos personagens fiquei esperando que houvesse uma finalização mais concreta das aventuras dos personagens, mas talvez o autor tenha compreendido que seria difícil concretizar a caminhada num cenário tão heterogêneo como apresentado em Caminhos cruzados.

REFERÊNCIAS

1 VERISSIMO, E. Caminhos cruzados. São Paulo: Claroeniga, 2010. p. 185.

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