“D.
Dodó declara-se a mais insignificante das criaturas que Deus botou no mundo,
indigna de desatar as sandálias dos mais humildes... Mas não, senhora! A quem
devemos os nossos asilos, as nossas festas de caridade mais bonitas ?... Não
senhora!1
A
capacidade criativa dos autores é um fenômeno de grande prodigiosidade e
reflete a visão de um cenário que lhe traz apego e expressão de um estilo
literário. Foi assim que Erico Verissimo escreveu no ano de 1935 sua quarta
obra voltada para um público maduro: Caminhos cruzados.
As
cenas que permeiam a obra responsável em projetar nacionalmente o escritor
gaúcho pode em certa medida ser uma comparação com a vida modesta que marcava o
cotidiano do autor naquele período. Oras, Verissimo não pode ser visto como o
desempregado João Benévolo que vagueia pela capital gaúcha em busca de
trabalho, mas a vida modesta do autor é uma das marcas deste período.
Como
foi o processo de criação dos personagens deste livro por Erico, seria uma
recordação dos personagens que ele cruzava todos os dias ao seguir à pé para o
trabalho na Editora Globo ?
Caminhos
cruzados expõe a vida de luxúria de personagens como o empresário Leitão Leria,
o sortudo Zé Maria e do comerciante Honorato Madeira, e noutro extremo a vida
difícil de D. Eudóxia, João Benévolo e do moribundo Maximiliano. No livro
também está presente as aventuras amorosas do jovem Fernando apaixonado por uma
prostituta, do coronel Zé Maria e seu filho que caminham na mesma direção dos “prazeres
da vida” e expõe as nuances das relações sociais de uma época marcada por
transformações na sociedade da capital gaúcha.
Como
o livro apresenta diversos personagens fiquei esperando que houvesse uma
finalização mais concreta das aventuras dos personagens, mas talvez o autor
tenha compreendido que seria difícil concretizar a caminhada num cenário tão heterogêneo
como apresentado em Caminhos cruzados.
REFERÊNCIAS
1
VERISSIMO, E. Caminhos cruzados. São
Paulo: Claroeniga, 2010. p. 185.
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