domingo, 7 de novembro de 2010

Inocência, de Visconde de Taunay



Fico imaginando como a literatura tem o poder de nos transportar para lugares sem que precisemos sair de casa, e como faz transcender toda uma conjuntura cultural, política e científica.

Estou pagando no curso de Licenciatura em Ciência Agrárias a disciplina Entomologia Agrícola, que trata da ação dos insetos na agricultura, e me deparei em Inocência com um enredo que me remeteu a enxergar a importância desta vertente da ciência.

Na verdade comprei este livro numa banca de revistas em 2004, salvo o engano, mas devido a sua introdução um pouco cansativa com descrição da região central do Brasil não tive muito ânimo para “devorá-lo”. Mas, uns quinze dias atrás procurava algo para ler como descontração e resolvi não voltar a leitura de livros de autores europeus, antes de me debruçar sobre nosso país e resolvi “encarar” Inocência.

O autor do livro é Visconde de Taunay (1843-1899) varão de grande desenvoltura política na época do Imperador D. Pedro II tendo atuado na Guerra do Paraguai e também na literatura e artes. Seu livro mais propagado com certeza é Inocência que trata da vida no Sertão na região do Mato Grosso.

A personagem principal é Inocência, filha do mineiro Pereira que prometeu a jovem em casamento a Manecão, até aí nenhuma alteração na vida tranqüila da família sertaneja.

Mas, um belo dia Inocência adoece e seu pai vai ao povoado mais próximo procurar um medicamento e não obtém êxito. Todavia, na volta encontra-se na estrada carroçal com o jovem Cirino, que se intitula médico (não terminou o curso) e o convida a ir à sua casa para assim tratar da rapariga (não se assustem esse é o termo que usa o autor no texto).

Cirino foi avisado pelo pai da moça que o mesmo tivesse muito respeito por ela, pois já estava prometida em casamento, mas o jovem quase médico não pôde deixar de ter um impacto diante da beleza obscurecida pela doença de Inocência:

Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia ecoar por entre os olhos sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces (Taunay, 2004, pg. 40).


O desenrolar da trama é como muitas história que já vimos onde Cirino e Inocência se apaixonam, mas o noivo Manecão acaba assinando o pretenso médico e logo em seguida a donzela também morre.

Nesse contexto da chegada do defunto Cirino nas terras de Pereira também encostou-se na propriedade o alemão Meyer que andava pelo Brasil coletando insetos que seriam expostos posteriormente na Sociedade Geral Entomológica, em Magdeburgo.
Certo dia Meyer numa de suas andanças pela propriedade deparou-se com uma borboleta até então desconhecida e como também tinha se encantado pela beleza de Inocência resolveu dar-lhe esse nome: Papilio Innocentia.

Embora Inocência tenha falecido com sintomas de profunda tristeza diante de uma paixão proibida sua vida ficou gravada na ciência pela decisão de Meyer em colocar seu nome na descoberta que fez.

Referências

TAUNAY, Visconde de. Inocência. Rio de Janeiro: Abc, 2004. 177 p.

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